Nudez


Despiu-se
De versos,
Risos,
Pudores
E galhardia.

Fez-se d'um dia
Eterna poesia.

Lilás


Pediu brisa ao vento,
Atrovoou tormento
E rodopiou olhares,
Atormentando,
Num só giro de ares,
Trilhas e lares de quem por sobre si
Deitava as vistas.

Mas de nada adiantava encorajar-se
Dependurada e só.

Extasiada das facilidades
oferecidas pelo galho,
Arremessou-se
Feito fruta madura de guerra,
Semeando,
Junto às outras filhas da terra,
Sementes de orgasmo
Ao som de cirandas de orvalho.

Entoaram cores,
Imitaram flores,
Humilharam dores
E germinaram.

Julietizaram prosas
Ergueram rosas,
Alexandraram hordas,
E simonizaram.


Empunharam lágrimas.

Finalmente estava semeado
Solo fértil para novas mulheres.

Mão Dada


Sirene gritou
Poeira assentada
E o que resultou?

Mais-valia e jornada.

O mês relutou
A sina apagada
E o que lhe pagou?

Foi sobra do nada.

Patrão pressionou
O não de mão dada
E o que lhe sobrou?

(respirou fundo)

- Luta e mais nada.

Aporia


Olhar,
Esplendor
E riso sem pudor.

Confluência entre paixão e amor.

Com Ela

Viveria de vento
Entregando-me
Aos ventos de feição
E revirando segredos
Com o sopro das mãos.

Viveria de vento
Descompassando ventos ponteiros
Escravos da hora
E ventanejando sem medo
Da seca e da chuva.

Viveria, enfim,
Demasiadamente de vento
Repousando querência
Na rosa-dos-ventos
E namorando ao pôr-do-sol
No crepúsculo de cada dia.
*Foto por Liana Lisboa