Aperriado, danava a deitar vistas no mundo celestial, desenhando, com esmero, nuvens silenciadas pelo sol. Mas o dia quedou-se inerte às dezoito horas. A noite estava por vir. Despedindo-me das imaginações em forma de nuvens, desejava, agora, a cortesia duma estrela cadente. Mas passava o tempo e nada. Nada de nuvens, nada de estrela cadente. Só sonho e mais nada. Ressentido pelo desprezo celestial, restava-me o consolo do infinito troposférico. Observava detidamente cada facho de luz perdida, mensurando, com exatidão, diâmetro, comprimento e intensidade astrológicos. Media, exaustivamente, cada cisco de luminosidade espacial, tecendo, com galhardia, contas e números na ponta dos dedos. Acreditava, cegamente, que nos astros os sonhos se amoldavam, se realizavam, bastando, para tanto, encaixá-los em sua respectiva luminosidade. Mas os números me entristeciam... (era o destino de toda conta popular). Sonhos eram inexatos; estrelas e números, não. Sonhos precisavam de estrelas; estrelas e números, não. E a lua, enquanto isso, solidária com os pedidos carentes de estrela, enchia-se de sonhos desestrelados... (enchia, crescia, minguava, enchia). Renascia periodicamente cheia. Fazia-se cheia. Fazia-se medida de todo sonho. E todo sonho se fazia real, mesmo que espiritual, abrindo vaga para novos sonhos. Era noite de lua cheia. Era noite de realização, de lual. Era sonho lunar. E cabia a mim, pisciano que sou, sonhar, sonhar, sonhar... à espera da próxima lua cheia. Ou, quem sabe, por uma vaga na próxima constelação...

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