CHOVIA

* pintura: Salvador Dalí

todos desdiziam do
tempo, estava diverso do belo.
desdiziam de gente, do quente, de
tudo, até do sol e da lua e da certeza que
os acompanhava. eram tão certos e incertos
como o dia e a chuva e o que diziam.

seres são sempre assim: retos e imediatos e
por vezes despreparados pros contornos da chuva.

mas todas as cores cruas de chuva se uniram
em torno d' um feixe de luz e vapor. todas as cores
cruas de chuva fingiram ser uma e de uma em uma
viraram várias e de vários tons e de vários orixás.

em verdade, feixavam Oxum, Oxossi, Iansã
e Iemanjá e todas as entidades que achavam
beleza em cada gota de chuva. era tudo uma festa
só: cerimônia, cores, vento e limpeza e o céu não era
céu nem reino, era colorido e ninguém da gente sabia
nem sentia. nada se ouvia, a não ser o grito calado dos
tambores de Orum.

o mundo estava iniciado, benzido, em resguardo feito
inverno; terreiro e vento cantavam; arco-íris renascia:
era a hora, enfim, de se aprender com chuvas, borboletas e aquarelas.

2 comentários:

Liu Lisboa disse...

Suas palavras são sempre chuva e sol, juntos, colorindo em arcos meus dias.

Amo!

Anônimo disse...

Texto muito bacana Rodrigo, parabéns! Marina.